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sexta-feira, 6 de maio de 2016

A composição do Parlamento explica o impeachment, por Percival Maricato


A composição do Parlamento explica o impeachment
por Percival Maricato
O resultado da eleição para presidente  e especialmente para o Congresso,  já apontava o cuidado extremo com que a Presidente Dilma, eleita por pequena margem de votos, devia governar. Seu discurso de posse, arrogante e simplista, mostrava que ela não tinha entendido o recado. Os eleitos, tanto para a Câmara Federal como para o Senado eram muito mais conservadores que os colegas que substituíam. A Casa Branca logo percebeu a fragilidade do governo e o ataque começou mal tinha acabado a posse.
Pelo nosso sistema eleitoral é possível eleger um dirigente do poder executivo, municipal, estadual ou federal, progressista, mas o corpo de parlamentares acaba tendo maioria conservadora, ditada pelas características do sistema, custo de campanha política, atração da carreira para projetos pessoais e etc. Mesmo assim, a composição do atual Congresso é ponto fora da curva, conservador demais.
A bancada sindical laboral foi reduzida de 83 para 46 representantes, segundo o insuspeito DIAP, uma derrota estonteante, que deveria merecer muita humildade e reflexão dos sindicalistas e da esquerda em geral. Claro que não são apenas carências econômicas que a explicam. Quem sabe o apego exagerado a  pleitos corporativos, o tempo e energia dedicados às guerras por controle de sindicatos, a falta de um projeto para o país, etc, ajudem a saber o porquê do resultado?
Os conservadores, segundo alertou o mesmo DIAP, findo pleito, elegeram 190 representantes do empresariado, 52 da bancadas  evangélica, 55 da bancada da bala (candidatos policiais foram os mais votados em vários estados); destaque-se ainda a poderosa bancada ruralista, que seria composta de uns 100 deputados (além de 14 senadores). Claro que os números podem não ser muito precisos, mas os 46 da bancada sindical são. Somados a outros eleitos pela esquerda,  totalizam pouco mais de uma centena, poucos se fizermos uma comparação histórica mais abrangente (desconte-se que comunistas que foram para o PPS e socialistas do PSB, que se engajaram na trajetória dos partidos liberais) e considerarmos que os governos do PT foram muito bem avaliados pela população até aquele momento.  O número de votos contra o impeachment chegou a 137, alguns votos a mais que a bancada de esquerda prevista acima, decorrentes de possíveis compromissos pessoais e deputados cuja consciência jurídica falou mais alto que o interesse imediato. Do outro lado, sem estranhar, esmagadores 367 votos. O fato do andar de cima  resolver por ordem na casa, entrar na guerra, enquadrar os fisiológicos, manusear o Lava Jato, sempre a espreita, a mídia pondo fotos e nomes de quem não aderia ao impeachment diariamente nos jornais, faz parte do jogo.
O Senado, por sua vez, sempre teve composição ainda mais conservadora, mas mais ideológica e menos fisiológica, o que não deixa de ser um diferencial importante em movimentos como o do impeachment. Um conservador experiente e não tão apegado ao curto prazo consegue pensar bem mais no futuro do país  do que um fisiológico. Mas isso não é suficiente para deter a avalanche. As câmaras da Globo estarão apontadas para cada um no dia, tal qual pistola.
Lembremos ainda que os eleitos se dividiram em cerca de 30 partidos, com seus donos, agendas, interesses, e reivindicações. O pais tem um problema na incapacidade e na visão predadora de sua elite tradicional, mas ela volta ao poder desta vez sem precisar de tanques, pelas mãos do fisiologismo. Todos gostaríamos de ter um país economicamente desenvolvido, além de politicamente democrático, mas sempre ficamos amarrados ao passado. O fisiologismo, porém, é  o problema imediato.  Foi, talvez, o maior risco nesses anos todos, minimizado pelos governos petistas. A presidente superestimou a possibilidade de controlá-los com distribuição de cargos. Quanto Temer, em ascensão, com toda a Casa Branca dando cobertura, os ofereceu e de forma mais segura, o arsenal de Dilma minguou. O fisiologismo, estimulado pela multiplicação de partidos-balcões de negócio, é  a maior deficiência do sistema. Só mudará com  muita educação para a cidadania, pacto com conservadores não fisiológicos, em especial lideranças com visão de longo prazo entre os empresários e uma reforma política. Os governos petistas não se preocuparam como deveriam com esses problemas; muito menos os tucanos, que também tentam se aproveitar do fisiologismo e as vezes são por ele chantageado, em seus governos. Segundo o mensalão Jose Dirceu tentou fazer o pagamento de apoios em espécie, em vez de ministérios. Não deu certo.
Consideremos que  o advento da crise econômica, que reduziu os recursos até então distribuídos pelos governos petistas,  apressou a decisão da Casa Branca e demais estamentos privilegiados  do estado: não seriam eles que iriam pagar a conta. Simples assim.


Percival Maricato

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